terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Vovó Ana"

A mãe de Pai Joaquim.

Vovó Ana do Congo é uma Entidade que trabalha como Preta-Velha na Lei do Congo (Nação de Angola). Por isso, ela pode ser chamada de Vovó Ana "do Congo", enquanto Pai Joaquim é "de Angola".
Vovó Ana foi escrava a vida inteira. Nunca soube o que foi nascer ou viver livre. Então, se conformou e fez seu filho se conformar também... Seus Ancestrais foram livres. Ela sabia, porque seus pais lhe contaram muitas coisas sobre a África de seus Avós.
Vovó Ana pensou que um dia poderia conhecer a África... Mas, sabia que seria impossível. Porém, nunca deixou de acreditar em sua Ancestralidade e nunca deixou de sonhar com a liberdade. Quem sabe, os Orixás não lhe ouvissem?!
Vovó Ana era chamada de Nhá Ana pelos Sinhozinhos, a quem tinha criado, cuidado e educado. Pois, apesar de ser escrava de seus Senhores, era respeitada por eles. Então, preferia viver como uma serviçal da Casa Grande, do que viver fugindo...
A vida de escravo era muito difícil. Principalmente, de escravo fujão! O destino era sempre o tronco, a chibata e o açoite. E Vovó Ana estava velha demais para enfrentar tudo isso... Não que ela se conformasse com a escravidão, mas na época dela, negro não tinha vez no Brasil! Por isso, era melhor ser escravo bem tratado, do que livre e açoitado.
Muitos que conviviam com ela não entendiam o seu pensamento, achavam que ela estava "variando" das ideias. Então, com a maior paciência do mundo, Vovó Ana explicava: "Se você for livre aqui no Brasil tem que ir para o Kilombo. E nem todos são aceitos lá... Fora do Kilombo, só  se voltar pra África... E quem vai levar você de volta?"
Todos ouviam os conselhos de Vovó Ana e se admiravam com sua sabedoria e tranquilidade. Ela era amorosa até com os Sinhozinhos! Vovó Ana viveu assim, e assim morreu... Sua vida foi uma vida de escravidão. E apesar da vida que levou, Vovó Ana nunca prejudicou ninguém por causa disso... Ao contrário, ela só ajudou!
Quando Pai Joaquim morreu, por problemas respiratórios, Vovó Ana sentiu que era hora de partir também... Ela não tinha marido, nunca teve. Só teve um filho: Joaquim. E agora nada mais tinha que lhe prendesse...
Então, em uma noite fria, deitada em sua pequena esteira de palha, Vovó Ana se despediu desse mundo... Ela partiu para o Orun de seus Ancestrais!