Os Africanos trouxeram para as Américas um incomensurável arcabouço cultural... Toda essa ideologia contribuiu, consideravelmente, para a formação de toda Sociedade Brasileira.
No entanto, essa tradição traz em sua bagagem, desde aquela época, registros de discriminação, preconceito, intolerância e perseguição religiosa. Fatos que até hoje são visíveis em diversos locais, por conta da extensa diversidade cultural dos Povos Africanos.
Para evitar retaliação e perseguição, muitos Cultos de Raiz eram (e são até hoje) realizados às ocultas, com extremo sigilo, preservando-se assim, a diversidade, a mescla de fundamentos e a divergência de conceitos.
Por conta disso, o Candomblé possui uma variedade de preceitos, amparados pelas diferentes Nações Africanas: Nagô, Ketu, Ijexá, Efan, Egbá, Xambá, Batuque, Jeje, Fon, Ewe, Fanti, Angola, Cabinda, Congo, Benguela, Bantu, Agni, Mina, Ashanti, Nzema, Timini, entre outros...
No Brasil, fundamentaram-se e permaneceram com maior propagação as seguintes Nações: Ketu, Angola, Jeje e Nagô. Com algumas variantes, visto que existe um entrelaçamento em suas subdivisões e origens... Podemos por assim dizer, que os Nagôs coexistem em todas as Etnias Africanas.
Devido a essa diversificada origem, até mesmo as Divindades Africanas são cultuadas com aspectos divergentes... Dessa maneira, temos o Orixá (em Ketu), o Vodun (em Jeje) e o Inquice (em Angola).
Comparativamente, apenas para elucidar, podemos citar...
- Exu, Legbá, Aluwaiá - Guardião dos caminhos e das encruzilhadas.
- Ogun, Gu, Nkosi - Senhor do ferro e do aço e Pai dos caminhos.
- Oxóssi, Aguê, Nzungu - O Grande Caçador... Dono da Fauna.
- Logun Edé, Atolú, Ngongobila - Divindade da Arte, da inspiração e da criatividade.
- Ossain, Agué, Katendê - Protetor das sementes, das árvores e das folhas.
- Xangô, Sogbo, Nzazi - Divindade do trovão, dos raios e das pedreiras.
- Oxumaré, Dan-Bessen, Hongolô - Dono da transformação, do equilíbrio e das cores.
- Irokô, Loko, Kitembo - Dono do Tempo...
- Omolu/Obaluaiê, Azonsu, Kaviungo - Senhor da saúde e da doença.
- Erê, Ibeji, Nvunji - Os gêmeos, Protetores das Crianças...
- Iemanjá, Naeté, Ndandalunda - Deusa dos Mares, Mãe das cabeças.
- Oxum, Aziri, Kisimbi- Deusa das águas doces, Mãe do Ouro e da fertilidade.
- Yansã, Oyá, Matamba - Rainha dos ventos e das tempestades.
- Ewá, Yewa, Angoromeia - Dona da ligação com os astros.
- Obá, Bá, Caramose - a Grande Guerreira...
- Nanã, Nã-Buruku, Nzumba - Dona do barro, da lama, dos pântanos e dos mangues.
- Oxalá, Lissá, Lemba-di-lê - Senhor da Paz, Dono do branco.
- Olorun, Mawu-Lissá, Nzambi - Divindade Suprema.
No entanto, vale lembrar que cada Nação cultua algumas Entidades próprias, com ritos e fundamentos bem específicos. Além do mais, nem todas as Entidades do Culto Ancestral Africano estão acima relacionadas... Visto que, cada Nação e cada Povo possui seus mistérios.
Os Orixás do Ketu são basicamente os mesmos da Mitologia Yorubá. No Brasil, os mais conhecidos são: Olorun, Oxalá, Ifá, Exu, Ogun, Oxóssi, Ossain, Logunedé, Xangô, Ayrá, Obaluaiê, Oxumaré, Yansã, Oxum, Iemanjá, Nanã, Ewá, Obá, Ibeji, Irôko, Okô, Egungun, Iyami-Ajé, Onilé, etc.
Os Voduns do Jeje são originários da Mitologia Ewe e Fon. Mawu-Lissá é a Divindade Suprema do Povo Dahomeano. Os demais Voduns são: Dangbé, Mawú, Lissá, Lokô, Gú, Heviossô, Azansú, Dan, Azizá, Otolú, Azaká, Agué, Agbê, Ayizan, Agassu, Dzo, Djó, Dambirá, Legbá, Fá, Aziri, Ahoô, Kposun, Bessén, Yewá, Frekwén, Sogbô, Badé, Ajagusi, Aveleketê, Nã Burukú, etc.
O deus supremo e criador de tudo na Nação Angola é Nzambi ou Nzambi Mpungu. Abaixo dele, estão os Inquices (Nkisi) ou divindades da Mitologia Banto: Aluvaiá, Maviletango, Pambu-Njila, Nkosi, Ngunzu, Teleku-Mpensu, Kabila, Mutakalambo, Nkongobila, Katende, Pekenini, Nzazi, Kaviungo, Nsumbu, Katu, Hongolo, Hongolo-Mea, Kindembu, Kaiango, Matamba, Nvamburussema, Kisimbi, Ndanda Nlunda, Karamose, Nzimbagondo, Kaiala, Nzumbárandá, Wunji, Nkasuté-Lembá, Lembarenganga, Nvumbi, etc.
Evidenciamos que não há comparações entre Orixás, Voduns e Inquices, pois cada Divindade refere-se unicamente ao seu Povo. Para aprender e dominar toda a Arte do Culto Africano se faz necessário pertencer à Nação e desenvolver completa e totalmente. Seja durante todo o processo de feitura, como em cada ritual, os mistérios são inúmeros!
Material para complementar a leitura: