quarta-feira, 31 de março de 2021

Quem é o Dono da minha Cabeça?


Cada iniciado no Culto Africano, recebe uma denominação, de acordo com a Nação a qual pertence... Essa denominação indicará se ele possui Orixá, Vodun ou Inquice. É o começo de tudo! (Ibere ohun gbogbo!)
Por isso, a primeira pergunta de todo iniciado é: Quem é o Dono da minha Cabeça? -ou- De quem é minha cabeça? (Em Iorubá: "Ta ni Olu Ori mi?") Conhecer o nome do Orixá ("Mọ orukọ Oríṣá."), significa: saber exatamente quem ele é...
Assim como nós possuímos nome e sobrenome, da mesma forma, o Orixá também possui nome e sobrenome. O nome indica a característica do Orixá e o sobrenome indica a sua qualidade.
A Nação é definida pelos aspectos gerais de sua manifestação ao dançar o xirê... O "Xirê", que em Iorubá significa, simplesmente, "fechar"... Mas, também significa: aderir. Representa toda a expressão da Religião... Roda em Iorubá escreve-se keke. A palavra Nação em Iorubá escreve-se: Orile-ede.
Quando um iniciado adentra a roda na Dança dos Orixás, ele manifesta o Orixá que lhe acompanha. Essa manifestação representa que ele possui Nação ou que ele pertence àquela Nação. Ou seja, "Ori xir ê" significa: Ele fechou! Quer dizer: O ni Ori  = Ele tem uma cabeça.
Xirê, na verdade, escreve-se "Si re", em Iorubá... E significa, apenas: abra! Isso quer dizer: se você tem mediunidade, que ela abra agora! Dessa forma, ao dançar no Xirê quem tem Orixá vai transparecer!
Os dialetos Africanos são muito extensos e divergentes, por conta das inúmeras Tribos. Entretanto, é bastante comum entre o Povo de Santo, utilizar a linguagem específica em Iorubá para identificar os Orixás.
Devido a tantas diferenças na escrita dos nomes e das qualidades dos Orixás, podemos perceber que é impossível definir apenas um nome para todos os Orixás do mesmo grupo.
Por exemplo, Ogun é um Orixá da Guerra, porque em Iorubá a palavra "guerra" escreve-se ogun. No entanto, o mesmo Ogun pode ser: da água (Ogun Omi), do fogo (Ogun Ina), da terra (Ogun Ile), do ar (Ogun Afefe), do ferro (Ogun Irin), do mar (Ogun ti Okun); e assim por diante...
Exemplificando, com o nome de um Ogun conhecido: Ogun Olode (Nome: Ogun; Sobrenome: Olode) Em tradução literal, significa: Caçador de Guerra. Com essa qualidade, percebe-se que esse Ogun utiliza espada, arco e flechas, entre outros apetrechos. Afinal, ele é um Ogun Caçador!
Além do nome e do sobrenome, também existe a Nação... Por exemplo: Ogun Orile-ede Omi (Ogun da Nação das Águas); Ile ti Ogun Oorun (Ogun da Terra do Sol); Kabiyesi Ogun, Oba Ogun! (Vossa Majestade Ogun, o Rei das Guerras!), etc.
A Nação pode ser expressa no nome do Orixá ou no nome da Casa... Como, por exemplo: Ilê Axé Obá Ketu; Casa de Culto Nagô-Omolocô; Ilê Erinlê Odé; Hunkpame Vodun Kposu; Ilê Ijo Ty Jagun Aty Oxum; Ilê Oko Axé Ifá; etc.
Com referência ao nome vamos citar alguns exemplos de frases em Yorubá:
- Quem é o seu Orixá = Tani Orixá rẹ?
- Qual o nome do Orixá? = Kini oruko Orixá?
- Qual o nome e o sobrenome do Orixá? = Kini oruko ati oruko idile ti Orixá?
- Orixá, diga seu nome... = Orixá, sọ orukọ rẹ ...
- Orixá, qual o seu nome? = Orixá, kini oruko re?
- Orixá, quem é você? = Orixá, tani iwọ?
Orixá, qual o seu mistério? = Orixá, kini ohun ijinlẹ rẹ?
- Orixá, qual sua Nação? = Orixá, kini Orile-ede rẹ?
- Dono da Cabeça = Olori Ori.
- Orixá Dono da Cabeça = Olórí Orixá ou Olórí orí olú.
- Qualidade da Cabeça... = Didara ti Ori...
- Qualidade do Orixá = Didara ti Orixá.
Lembrando que em Yorubá, Orixá escreve-se Oríṣá. Mas, aqui escrevemos como se escreve em português mesmo...
Por fim, esclarecemos que de nada adianta pesquisar as qualidades dos Orixás para dizer: Meu Orixá é "fulano" de tal... Pois, quem fornece o nome e o sobrenome é o próprio Orixá. E ele só o faz em momento adequado, após todo o procedimento de feitura.
Ainda é preciso lembrar que, além dos Orixás, com todos os seus nomes e qualidades, temos os Voduns e os Inquices. Todas essas divindades diversas das inúmeras Nações Africanas, são representações específicas dos dons que cada ser humano carrega em si mesmo.

quarta-feira, 24 de março de 2021

"Di jina"


Existem relatos de Cultos Africanos no Brasil desde o século XVII... Inicialmente na Bahia e, posteriormente, em outras regiões do país.
Uma das presenças mais importantes dessa contribuição está na manifestação da Religiosidade. Diversos aspectos dos Cultos Ancestrais Africanos estão presentes em nosso dia a dia e em nossas vidas.
Uma dessas particularidades faz referência às diferentes Nações e às qualidades dos Orixás. Cada "Di jina*" (nome e sobrenome da Entidade) carrega um mistério e um fundamento, capaz de identificar as preferências e as particularidades de cada um.
Nos candomblés de origem Bantu, o nome do Nkisi (Inquice) da pessoa deve ser secreto, para sua própria proteção. Visto que, existem os desafetos daquela pessoa, que podem fazer mal uso dessa informação.
Da mesma maneira, em todas as Casas de Culto, os nomes dos Orixás, ou mesmo dos Voduns, permanece em segredo... Sendo revelado somente ao final de todo o procedimento.
Por isso, jamais deve-se sair por aí, anunciando aos quatro cantos e aos quatro ventos, o nome e o sobrenome de seu Protetor Maior, seja ele Orixá, Vodun ou Inquice.
Em Jeje, por exemplo, um Vodunsi jamais pronuncia seu nome em meio a estranhos. No Culto aos Voduns, o nome é a maior proteção que cada um pode ter reservado a si mesmo... Por isso, ele é preservado a todo custo!
Devido a extensão e a variedade de fundamentos e preceitos do Candomblé, muitas singularidades permanecem efetivas até os dias atuais. Como por exemplo, as palavras, os cantos e os gestuais...
Outra coisa que precisamos ter em consideração são as traduções equivocadas, feitas por pessoas que, além de escreverem errado, também ensinam de forma tortuosa. Essas incoerências alteram todo o significado dos fundamentos dos Cultos.
A palavra "Dijina" na verdade é uma junção de dois termos em Iorubá: di+jina = por um nome, dar um nome, colocar um nome... No entanto, se dissociarmos a palavra Dijina em di+ji+na, temos: tornar-se profundo e acordado. Que representa o "despertar do Santo" após a pronúncia do nome verdadeiro.
Dessa forma, se escrevermos Dijina, a palavra com junção nada significa em Iorubá. Já "Di jina" ou "Di ji na" possui diversos significados. Para entender melhor:
Di jina = por nome...
- Di ji na = despertar...
Além da palavra "Dijina", usada para se referir ao nome do Orixá, temos também a palavra: "Oruko"...
- Oruko = nome.
- Oruko-idile = sobrenome (ou apelido).
Alguns sites e outros Blogs, utilizam a palavra Orunkó para indicar o nome do Orixá. No entanto, Orunkó significa, simplesmente: "dorme". Ou seja, uma letra a mais e todo o sentido da palavra em Iorubá altera-se...
Portanto, seja pela "Di jina" ou pelo "Oruko-idile", que o seu Orixá, Vodun ou Inquice determinar, guarde-o em segredo com você, pois são muitos os ignorantes nos Cultos que fazem mal uso das palavras e das ações.
Tenha cuidado com as pronúncias e com as escritas mal grafadas, porque em Iorubá um pingo é uma palavra e uma letra altera uma frase inteira. Busque sempre as informações corretas e verdadeiras... Jamais se comprometa com a Lei da Evolução ao fazer mal uso das palavras.

sábado, 13 de março de 2021

Orixás, Voduns e Inquices.


Os Africanos trouxeram para as Américas um incomensurável arcabouço cultural... Toda essa ideologia contribuiu, consideravelmente, para a formação de toda Sociedade Brasileira.
No entanto, essa tradição traz em sua bagagem, desde aquela época, registros de discriminação, preconceito, intolerância e perseguição religiosa. Fatos que até hoje são visíveis em diversos locais, por conta da extensa diversidade cultural dos Povos Africanos.
Para evitar retaliação e perseguição, muitos Cultos de Raiz eram (e são até hoje) realizados às ocultas, com extremo sigilo, preservando-se assim, a diversidade, a mescla de fundamentos e a divergência de conceitos.
Por conta disso, o Candomblé possui uma variedade de preceitos, amparados pelas diferentes Nações Africanas: Nagô, Ketu, Ijexá, Efan, Egbá, Xambá, Batuque, Jeje, Fon, Ewe, Fanti, Angola, Cabinda, Congo, Benguela, Bantu, Agni, Mina, Ashanti, Nzema, Timini,  entre outros...
No Brasil, fundamentaram-se e permaneceram com maior propagação as seguintes Nações: Ketu, Angola, Jeje e Nagô. Com algumas variantes, visto que existe um entrelaçamento em suas subdivisões e origens... Podemos por assim dizer, que os Nagôs coexistem em todas as Etnias Africanas.
Devido a essa diversificada origem, até mesmo as Divindades Africanas são cultuadas com aspectos divergentes... Dessa maneira, temos o Orixá (em Ketu), o Vodun (em Jeje) e o Inquice (em Angola).
Comparativamente, apenas para elucidar, podemos citar...
- Exu, Legbá, Aluwaiá - Guardião dos caminhos e das encruzilhadas.
- Ogun, Gu, Nkosi - Senhor do ferro e do aço e Pai dos caminhos.
- Oxóssi, Aguê,  Nzungu - O Grande Caçador... Dono da Fauna.
- Logun Edé, Atolú, Ngongobila - Divindade da Arte, da inspiração e da criatividade.
- Ossain, Agué, Katendê - Protetor das sementes, das árvores e das folhas.
- Xangô, Sogbo, Nzazi - Divindade do trovão, dos raios e das pedreiras.
- Oxumaré, Dan-Bessen, Hongolô - Dono da transformação, do equilíbrio e das cores.
- Irokô, Loko, Kitembo - Dono do Tempo...
- Omolu/Obaluaiê, Azonsu, Kaviungo  - Senhor da saúde e da doença.
Erê, Ibeji, Nvunji - Os gêmeos, Protetores das Crianças...
- Iemanjá, Naeté, Ndandalunda - Deusa dos Mares, Mãe das cabeças.
- Oxum, Aziri, Kisimbi- Deusa das águas doces, Mãe do Ouro e da fertilidade.
- Yansã, Oyá, Matamba - Rainha dos ventos e das tempestades.
- Ewá, Yewa, Angoromeia - Dona da ligação com os astros.
- Obá, Bá, Caramose - a Grande Guerreira...
- Nanã, Nã-Buruku, Nzumba - Dona do barro, da lama, dos pântanos e dos mangues.
- Oxalá, Lissá, Lemba-di-lê - Senhor da Paz, Dono do branco.
- Olorun, Mawu-Lissá, Nzambi - Divindade Suprema.
No entanto, vale lembrar que cada Nação cultua algumas Entidades próprias, com ritos e fundamentos bem específicos. Além do mais, nem todas as Entidades do Culto Ancestral Africano estão acima relacionadas... Visto que, cada Nação e cada Povo possui seus mistérios.
Os Orixás do Ketu são basicamente os mesmos da Mitologia Yorubá. No Brasil, os mais conhecidos são: Olorun, Oxalá, Ifá, Exu, Ogun, Oxóssi, Ossain, Logunedé, Xangô, Ayrá, Obaluaiê, Oxumaré, Yansã, Oxum, Iemanjá, Nanã, Ewá, Obá, Ibeji, Irôko, Okô, Egungun, Iyami-Ajé, Onilé, etc.
Os Voduns do Jeje são originários da Mitologia Ewe e Fon. Mawu-Lissá é a Divindade Suprema do Povo Dahomeano. Os demais Voduns são: Dangbé, Mawú, Lissá, Lokô, Gú, Heviossô, Azansú, Dan, Azizá, Otolú, Azaká, Agué, Agbê, Ayizan, Agassu, Dzo, Djó, Dambirá, Legbá, Fá, Aziri, Ahoô, Kposun, Bessén, Yewá, Frekwén, Sogbô, Badé, Ajagusi, Aveleketê, Nã Burukú, etc.
O deus supremo e criador de tudo na Nação Angola é Nzambi ou Nzambi Mpungu. Abaixo dele, estão os Inquices (Nkisi) ou divindades da Mitologia Banto: Aluvaiá, Maviletango, Pambu-Njila, Nkosi, Ngunzu, Teleku-Mpensu, Kabila, Mutakalambo, Nkongobila, Katende, Pekenini, Nzazi, Kaviungo, Nsumbu, Katu, Hongolo, Hongolo-Mea, Kindembu, Kaiango, Matamba, Nvamburussema, Kisimbi, Ndanda Nlunda, Karamose, Nzimbagondo, Kaiala, Nzumbárandá, Wunji, Nkasuté-Lembá, Lembarenganga, Nvumbi, etc.
Evidenciamos que não há comparações entre OrixásVoduns e Inquices, pois cada Divindade refere-se unicamente ao seu Povo. Para aprender e dominar toda a Arte do Culto Africano se faz necessário pertencer à Nação e desenvolver completa e totalmente. Seja durante todo o processo de feitura, como em cada ritual, os mistérios são inúmeros!

Material para complementar a leitura:

terça-feira, 2 de março de 2021

O mito de Onilé, a Mãe-Terra...

E o domínio de cada Orixá.


Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência...
Quando os Orixás, seus irmãos, se reuniam no palácio do grande pai, para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques.
Onilé não se sentia bem no meio dos outros. Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança.
Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento. Quando chegou por fim o grande dia, cada Orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare.
Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. Ossain vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogun preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. Oxum escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. As roupas de Oxumare mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão. Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio . E assim por diante...
Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar -se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes.
Os orixás encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onilé... Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu -se a uma funda cova que cavou no chão.
Quando todos os orixás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estavam tão bonitos que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo.
Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. Então, Iemanjá ficava com o mar, Oxum com o ouro e os rios. A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Ossain. Deu à Iansã o raio e à Xangô o trovão. Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Oxumare o arco -íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante...
Deu a cada orixá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza.
Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do Orixá.
Os Orixás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte. Olodumare pediu silêncio, pois ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orixás. Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.
Quem seria? Perguntavam-se todos? "Onilé", respondeu Olodumare. "Onilé?" todos se espantaram. Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? Nenhum dos presentes a vira até então... Nenhum sequer notara sua ausência. "Pois Onilé está entre nós", disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha. Ali estava Onilé, em sua roupa de terra.
Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta. Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orixás?
"Tudo está na Terra", disse Olodumare. "O mar e os rios, o ferro e o ouro, Os animais e as plantas, tudo", continuou. "Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte".
Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi a sentença final de Olodumare. Onilé, Orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, porque na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem.
Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orixás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram à mãe Terra o que é da terra.
E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos Orixás.