Para a Umbanda Sagrada, Deus é carinhosamente chamado de "Zambi". A palavra Zambi deriva de NZambe, que significa Deus na língua original do Povo Bantu. NZambe é um Inquice (Nkisi) do Povo Kicongo. Para explicar essa associação, segue a transcrição do texto: "Cosmogonia Bantu: NZAMBI A MPUNGU (Deus Supremo), a Criação da Natureza e do Homem (Muntu)."
A Cosmogonia Bantu tem origem, desde a formação dos primeiros Grupos ou Aldeias Bantu na Região de Benué (Norte Oeste de Camarões), até a fundação do poderoso Reino do Kongo, por Nímia Luqueni (Lukeni Lua Nimi) no século VII, passando pela migração dos Bantu na África Central.
Essa Cosmogonia Bantu é baseada em primeiro lugar sobre a Crença que toda Natureza: Terra, Céus (Ntoto, Zulu) é a Criação de Nzambi A Mpungu (Deus), Ser Poderoso, Supremo. É isso que justifica o provérbio Kongo: "Nzambi wa lamba luku, tongo beto bantu." (Deus cozinhou farinha de mandioca, e homens são condimentos). E que tudo que existe dentro da Natureza é também sua Criação, que o homem (Muntu) tem que respeitar.
E para honrá-lo, Mampungu Tulendo (Deus) precisa de louvação, oração (lomba, sambila) no Culto dos Ancestrais numa Casa dos Ancestrais (Nzo Ya Bakulu). O Culto se faz por muitos rituais, e mesmo a louvação, o respeito, se fazem através de provérbios, canções. Por essa razão, John Mbiti disse no Livro Religions et Philosophies Africaines: "O que o Africano sabe de Deus, se exprime por provérbios, curtos enunciados, canções, orações, nomes, mitos, narrativas, cerimônias religiosas."
Esse Deus é Único (Monoteísta) para os Bantu, é Mampungu (Poder), Tulendo (Autoridade). Nesse sentido, Deus é o único poder que abraça todas autoridades. A criação por Deus é concebida por três princípios (A Trindade). Como os Três Clãs iniciais no Kongo, que é a base da fundação do Kongo. Esse Deus Único tem várias facetas. Em outras palavras, ele tem vários nomes segundo as circunstâncias, contextos.
Ele se chama Mbumba Lowa (Gato), pois o Gato é um animal sagrado desde o Egito Antigo, ele tem capacidade para olhar a noite e o dia, como Deus, o gato não caiu de costas... Na língua Kikongo, cair (bua) quer dizer ter culpa, ser vencido. Assim, como o gato não caiu de costas, de repente ele é comparado a Deus. Mas precisa lembrar, Mbumba Lowa na Cosmogonia é uma referência da Potência da Criação de Deus.
Outro nome de Deus é Kalunga (Imanência de Deus), enquanto no sentido largo, ele se refere a Deus no contexto do Mar (Mbu), pois o mar é infinito, então Deus é infinito também, não tem início e fim. O Mar representa a pureza, e joga a sujeira por onda, e do mesmo jeito Deus é puro.
Na Cosmogonia Bantu, NZambi A Mpungu Tulendo é perfeito (Sinuku), o homem pode o encontrar através de meios humanos. Por exemplo, no poderoso Reino do Kongo Dia Ntotila, existiam várias Escolas Iniciáticas (que a Ontologia Ocidental chama de Setas Secretas), mas que na verdade foram Escolas Tradicionais, onde os jovens Kongo frequentaram para atingir conhecimentos tradicionais sobre Deus, Criação, Tradição, Costumes.
Até mesmo, a mesma Cosmogonia nos diz que o homem não pode atingir Deus, o que justifica o provérbio Kongo: "Kutombi Nzambi Nko,Nzambi ka mone ka nga ko" (Não procure Deus, ele é invisível).
Em outras palavras, o homem com seus sentidos corporais não pode atingir Deus, pois este é Santíssimo, e de repente precisa dos intermediários. Os intermediários são os Bons Ancestrais, que morreram, que são Santos e que fazem a intercessão das nossas orações a Deus; esses Ancestrais se chamam Bakulu ou Nkukunuyngu (Antigos, Esclarecidos).
A Cosmogonia Bantu considera a finalidade da Educação dos jovens Kongo, é chegar a olhar em frente os bons Ancestrais (Bakulu) diretamente para transmitir os pedidos a Nzambi Mampungu (Deus Supremo).
Texto escrito por:
Mwana Ayakala kwa Nzo Tumbansi/ILABANTUPesquisador do Grupo de Pesquisa Multi-Institucional da África (UERJ)
Membro Pesquisador da ABPN