segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Dois-dois, Doum...


Nos dias 26 e 27 de setembro comemora-se São Cosme e São Damião. Os dias de comemoração entre a Umbanda, o Candomblé, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Tradicional, possuem datas diferentes; por isso, as duas datas são festejadas.
São Cosme e São Damião são considerados Protetores dos Médicos, dos Cirurgiões e dos Farmacêuticos. Entretanto, devido à sua simplicidade e grande generosidade, também também são invocados como Protetores das Crianças.
A História dos Santos Gêmeos mistura-se à muitas lendas e se confunde no imaginário popular, devido aos inúmeros milagres por eles realizados. Por isso, muitas lendas surgiram e permaneceram...
Contam as Lendas que Cosme e Damião tinham outros irmãos que também foram santificados. Alguns dizem que eles se chamavam Talab, Alabá e Doú. Mas, existem registros de que seus nomes verdadeiros eram: Antimo, Leôncio e Euprepio. Assim como os irmãos, Cosme e Damião também receberam outros nomes ao nascer. Segundo os registros canônicos, seus nomes verdadeiros eram: Acta e Passio.
Existem registros de que eles teriam nascido em alguma região da Arábia, contudo praticavam a medicina na região da Egeia, na Síria. Como Cosme e Damião atendiam caritativamente, desde animais até diferentes pessoas em todos os Vilarejos por onde passavam, o povo começou a venerá-los e a aclamá-los! O Imperador não gostou nada disso... Por isso, mandou executá-los!
Assim como Cosme e Damião, seus irmãos também foram executados, mais precisamente, decapitados. Isso depois de muita tortura... A morte ocorreu em 27 de setembro, entre os anos 287 e 300.
Em meio a tantas histórias e lendas, também acreditava-se que Crispim e Crispiniano, fossem irmãos de Cosme e Damião. Existem muitas semelhanças entre suas histórias de vida. Como eles viveram na mesma época que os Santos Cosme e Damião e também eram gêmeos, as duas histórias se misturaram... Bem como o sincretismo com os Ibejis.
Devido ao fato de Cosme e Damião serem gêmeos idênticos, por onde passavam as crianças corriam e gritavam: "Lá vem dois-dois!" Dessa forma, o termo "Dois-dois" é uma referência à todas as crianças que nascem gêmeas, ou seja, aquelas que dividiram o mesmo útero materno desde a concepção até o nascimento.
Já a expressão "Doum", deriva de Idowun, que em Yorubá significa: só, isolado. Ele representa todas as crianças "mirradinhas", que não se desenvolveram adequadamente por algum motivo... Mas, também faz referência aos natimortos ou aos falecidos antes dos sete anos de idade.
Existem muitas cantigas e pontos cantados com as expressões: "Dois-dois, Doum", como por exemplo: "Dois-dois, Doum, são a minha proteção. Eles me fazem companhia, tanto de noite, quanto de dia." e "Jamais estou sozinho, ando bem acompanhado. Dois-dois, Doum, estão sempre ao meu lado."

sábado, 25 de setembro de 2021

IBEJI


A palavra Ibeji significa: gêmeos. Ela deriva de dois termos em Yorubá: ibi (nascimento) e eji (dois). Ibeji é uma palavra mais utilizada na Nação Ketu. Nas Nações de Congo e Angola, chama-se Vunje.
Para os Yorubás, a energia de Ibeji forma-se a partir de duas entidades distintas que coexistem entre si, ou seja, um não existe sem o outro... Dessa forma, se um dos gêmeos morrer, aquele que sobreviver deve lembrar aquele que morreu, porque eles estarão interligados para sempre. Assim, a mãe deve preservar a memória do filho morto para o filho que está vivo.
Na África cada gêmeo é representado por uma imagem, que permanece em exposição em todas as Festividades, recebendo ofertas e tributos. Junto dessas imagens, permanece uma outra igual e menorzinha, que representa todas as crianças falecidas da tribo (abikus).
Apesar de tudo, Ibeji é uma divindade que rege a alegria, a inocência, a ingenuidade e a pureza de uma criança. Pois, a sua principal missão está em preservar cada pessoa, desde o nascimento até a adolescência, independente de cada Orixá que a rege.
Normalmente, as palavras "Ibeji, Erê e Vunje" são utilizadas como sinônimos. Entretanto, para cada cada Nação do Candomblé, elas possuem significados distintos.
A palavra Erê vem do Yorubá iré, que significa "brincadeira, divertimento". Daí a expressão xirê (siré), que significa "fazer brincadeiras". E a palavra Erê também não pode ser confundida com a palavra criança, que em Yorubá, é omodé. Vunje, por sua vez, significa "sabido".
Durante o Ritual de Iniciação (Feitura) é o Erê que estará presente a maior parte do tempo. Ou seja, é ele que levará ou trará as várias mensagens do Orixá. Pois, Erê é o intermediário entre aquele que foi iniciado para o Orixá e o próprio Orixá.
Ao contrário do que muitos imaginam, um Erê pode andar e falar normalmente, mantendo apenas suas características primordiais de apresentação. Por isso, enquanto estiver presente no Terreiro, um Erê pode auxiliar em determinadas tarefas.
Ibeji (Erê ou Vunje) faz parte de todos os Rituais do Candomblé e, assim como Exu, ele deve ser bem cuidado... Mas, se por acaso, a Casa esquecer de Ibeji, ele saberá cobrar sua lembrança!
Para chamar a atenção da Corrente Mediúnica, o Ibeji poderá atrapalhar os trabalhos com inúmeras brincadeiras infantis e desvirtuar a concentração dos médiuns da Casa. Isso quer dizer, que se um Ibeji apareceu em um Trabalho de Gira, alguém está lhe devendo obrigação!
Para finalizar, é preciso lembrar um ditado em Yorubá que diz: "O que Orixá faz, Ibeji desfaz... Mas, o que Ibeji faz, nem Exu desfaz!" Portanto, a força de um Ibeji deve ser sempre respeitada!

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

ASSENTAMENTO


A palavra assentamento deriva do verbo assentar... De acordo com os dicionários, assentar significa: anotar, averbar, ajustar, acomodar, alicerçar, firmar, fundamentar...
Durante o Processo de Feitura, existe a necessidade de assentar o Santo. Na verdade, o Santo em si jamais será assentado, o que se assenta é a representação (simbologia) do mesmo. Para tanto, se utilizam apetrechos, símbolos e objetos diversos.
Para assentar um Orixá, se faz necessário seguir as regras da Casa (Roça). Isso porque cada Terreiro responde a um Código Ético, obedecendo a uma Hierarquia Ancestral Milenar própria.
Nas Religiões Afrodescendentes, o assentamento possui a função de salvaguardar a Casa e o próprio desenvolvido de qualquer influência externa ao procedimento. Por conta disso, a estruturação de um assentamento se modifica de uma Nação para outra, bem como, de uma Roça pra outra.
Como tudo está interligado no Universo, o assentamento liga a pessoa ao seu Protetor. Ou seja, é um indicativo de "pertencimento". O assentamento indica que aquela pessoa pertence àquele Orixá. Para isso, se utilizam apetrechos, símbolos e utensílios específicos a cada um...
O apetrecho é um instrumento que representa o Orixá. Os símbolos podem identificar a Casa e a Nação. Os demais utensílios são utilizados para proporcionar firmeza e estabilidade ao assentamento. Com o passar dos anos e dos procedimentos adquiridos, o assentamento vai se modificando e se estruturando cada vez mais, até a finalização do processo. 
Como existem os rituais necessários para se criar um assentamento, de nada adianta sair por aí "assentando" qualquer Santo sem a devida preparação... Por isso, existe o processo de feitura.