segunda-feira, 27 de maio de 2019

Pombagirinha de Oxum

Ela nasceu entre os excluídos, nas ruas de Londres. Era o ano de 1623. Sua mãe a colocou na Roda dos Enjeitados, para que ela fosse criada por uma família de bem e tivesse um destino diferente do seu... Mas, quis o destino que sua vida seguisse o mesmo caminho e quem a adotou nada tinha de bom em seu coração.
Desde o começo sofreu maus tratos e recebeu castigos diversos. Apanhou muito daqueles a quem mais amou e considerou. Quando completou oito anos, seu pai adotivo a violentou... Mesmo assim, em seu coração uma canção sempre tocava, talvez aquela que ouviu no útero, enquanto sua mãe a aguardava. Nos momentos de angústia, tristeza e solidão, lembrava de ter ouvido falar de uma mãe muito amorosa chamada Maria. Então, clamava por proteção a essa mãe que nem conhecia...
Sempre imaginou que tudo poderia mudar; então, inventou um outro mundo, onde ela poderia ser feliz. Nesse mundo imaginário, não havia dor ou sofrimento; as pessoas eram amorosas e respeitavam umas às outras. No seu mundo ela seria alguém capaz de ajudar os outros e receberia gratidão em troca.
Ela tinha um nome que pouco era pronunciado, porque lhe diziam outros nomes pouco apreciáveis. Mas, ela gostava de seu nome e quando podia dizia-o para si mesma para não esquecê-lo. Então, repetia: Melissa, eu sou Melissa.
Uma vez ela viu a planta que lhe deu o nome e sentiu seu aroma. E pensou: um dia eu serei cheirosa como essa flor. E assim viveu nossa pequena flor de coração entristecido até o dia em que adoeceu gravemente e foi abandonada para morrer...
Quando ela partiu para outra vida, com seus oito anos, apenas, partiu sorrindo porque ia encontrar a Mãezinha Amorosa que ela tanto amou sem conhecer... Em sua nova vida, no outro mundo, recebeu carinho, conforto e atenção de pessoas estranhas. Descobriu que não era mais uma pessoa, era um espírito, agora.
Não entendia nada de espíritos, porque só tinha ouvido falar das almas penadas. E pensou: Será que sou uma alma penada? A moça que lhe cuidava sorriu e respondeu: Meu anjo, almas penadas são espíritos sofredores e você não está sofrendo... Seu coração é puro, minha flor. E Melissa refletiu: Eu sou uma flor. E sorriu...
No lugar onde estava tudo era muito diferente daquilo que imaginou... e muito melhor! Ela fez amigos e estudou - ela nunca tinha estudado! Achou ótimo estudar! Aprendeu um monte de coisas. A moça que sempre conversava com ela, falou que se chamava Maria e ela pensou: Será que é a Maria que eu amo tanto? A moça sorriu e respondeu: Não, meu anjo, eu trabalho pra essa Maria que você tanto ama. E contou a história dela e de Jesus. Depois falou: Mamãe Maria é nossa Protetora. Em nosso Reino existem muitos trabalhadores e uma hierarquia muito grande. Cada Reino possui um responsável, que cuida e protege a todos. Esse Protetor é chamado Orixá. Ele comanda muitos trabalhadores, que trabalham ajudando as pessoas na Terra. Melissa pensou e falou: Isso, é isso que quero fazer, ajudar... Maria sorriu e falou: Então, vou preparar você para ajudar os outros e você será um Espírito Guia. Melissa pensou: Gostei de ser chamada de Espírito Guia. Melhor que ser Alma Penada. E riu dela mesma... Maria riu também das suas considerações.
Melissa foi preparada, instruída e orientada. Recebeu o nome de sua Falange: Pombagirinha Maria das Dores. Pombagirinha, porque ela guardava o mistério da dor. Maria das Dores para representar sua falange e a Orixá que lhe comandava. Soube depois que seria Oxum e que ela representava a água. Isso era bom... Melissa amava a água. Foi dessa forma que surgiu a Pombagirinha Maria das Dores, trabalhadora amorosa do Reino de Mamãe Oxum.

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segunda-feira, 20 de maio de 2019

A história de "Mãe Preta do Congá"...

"Vocês podem me chamar de Mãe Preta ou Mãe Pretinha... Carrego esse nome com orgulho, porque ele me libertou e me religou ao meu passado de africana.
Eu nasci na África do Sul, entre os anos de 1723 e 1725. Naquela época não era costume prestarmos atenção em datas. Costumávamos olhar o sol, a lua e as estrelas. E também olhávamos os movimentos das águas e dos animais, para sabermos se haveria seca.
Meu pai era um Nganga da Tribo Ngangela. Nossa tribo vivia a princípio ao sul do Continente Africano. Depois, com as invasões e perseguições dos Europeus, adentramos o Continente e nos mudamos.
Por isso, hoje em dia, quando vocês estudam nosso povo, percebem a extinção de muitas raças e a migração de muitas tribos, para outros territórios...
Nós éramos um povo coletor e caçador. Coletávamos o alimento nos bosques. E também caçávamos. Andávamos nus e vivíamos em pequenas casas, construídas com cipós e capim. Vivíamos com simplicidade, alegria e fartura.
Mas, um dia tudo mudou... Eu estava com sete anos de idade, quando homens estranhos chegaram com gaiolas, cordas e armas. Nossa tribo era pacífica e nem percebeu o que estava acontecendo!
Alguns de nós tentaram resistir ou fugir... Meu pai lutou e foi morto e minha mãe foi enjaulada. Todos fomos caçados e enjaulados como animais! 
Deixarei de narrar todo o horror de nosso transporte até a terra de vocês, porque ainda sinto tristeza quando relembro essa parte...
Quando chegamos ao vosso Continente, muitos de nós haviam morrido ou estavam fracos e desnutridos. Aqueles que sobreviveram foram considerados fortes e capazes. Eu sobrevivi, só que me senti a pior das criaturas!
Todos nós fomos separados e comercializados em praça pública... Um espetáculo grotesco e repugnante! Exibidos como cavalos de raça, que mostram os dentes e os cascos para demonstrar sua capacidade. 
Me perdoem a observação. Sinto dor ao pensar que seres humanos comercializam outros seres humanos. E também sinto dor, por todos os absurdos que a humanidade comete e cometeu em nome da superioridade.
Prosseguindo: minha mãe morreu na viagem de doença e tristeza. Eu cheguei à essa terra e fui comprada por um rico mercador de joias.
Ele vivia com a esposa e filhos na região de Ouro Preto, em Minas Gerais. Assim que cheguei, passei a ser sua serva pessoal e escrava sexual.
Fui alojada junto com outros escravos num cômodo ao lado da casa. Ninguém falava minha língua, pois éramos todos de etnias diferentes. Para nos comunicar usávamos gestos e sinais.
Cada vez que o mercador saía para negociar me levava com ele. Assim vivi dez anos, até engravidar e ser vendida por sua esposa a um outro dono.
Minha nova casa era uma fazenda distante e meu novo proprietário era mais gentil. Fui colocada junto aos outros escravos, onde as acomodações eram melhores do que minha antiga residência. A comida também era melhor...
Ali, nesse lugar, tive meu filho, um mestiço de olhos amendoados, a quem dei o nome de José. Eu já entendia a língua e compreendia os costumes.
Eu ainda não sabia onde estava... Mas, depois de um ano descobri que era em um lugar chamado Campinas.
Passei a trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar e no engenho. O trabalho preencheu meu tempo e os anos voaram...
Meu novo patrão nunca me encostou e eu o agradeço por isso. Eu nunca casei... Os anos de servidão sexual me bastaram suficientemente.
O tempo passou e eu permaneci naquela fazenda até o final de meus dias. Foi bom, porque ali, pelo menos, recebíamos um tratamento melhor.
Meu filho José cresceu e passou a me ajudar na lavoura. Com o tempo lhe ensinei os costumes de nossa gente e lhe contei tudo o que eu sabia...
Falei de nossa terra, de nossa tribo e de nossos antepassados. Ensinei a ele o que meus pais me ensinaram... Ensinei José a ser um Ganga (Nganga).
Desde que recordei os costumes de meu povo, decidi atender a todos que me procuravam...
Eu fazia unguentos, chás e emplastros para tratar feridas ou machucados. E também benzia... E foi a partir desse momento que fiquei conhecida como 'Mãe Preta'.
Atendi todos os dias do resto da minha vida. E só parei de atender no dia em que fechei os olhos para esse Mundo."

quarta-feira, 15 de maio de 2019

ACOLHIMENTO


A palavra de hoje é: acolhimento. Acolher significa receber bem, com generosidade e hospitalidade. O bom médium sabe que precisa recepcionar com carinho todo aquele que o procura. Porque aquele que procura atendimento, procura alívio para sua dor e aconselhamento para seu problema.
Atender imparcialmente foi o maior ensinamento que o Mestre nos deixou! Em todo lugar existem pessoas boas ou ruins. Isso é um fato. Então, se nos preocuparmos com as pessoas de caráter ruim, jamais atenderemos as pessoas de boa índole.
Precisamos, antes de mais nada, observar com atenção nossas imagens no altar... Tanto a imagem de Oxalá, quanto a imagem de Iemanjá, estão com os braços estendidos em sinal de acolhida. Eles acolhem seus filhos!
A Umbanda nos deixou esse legado: acolher qualquer pessoa ou espírito que nos procure. Precisamos nos encher de receptividade e amorosidade. Ao preenchermos nossos Congás de bons sentimentos, conseguiremos cumprir nossa missão com paz e harmonia. Seremos mensageiros fiéis de Zambi.
Nossos ambientes precisam estar preenchidos de fé, esperança e amor. Nossas atitudes devem refletir os Ensinamentos Sagrados. Nossas ações devem demonstrar a equidade de nosso compromisso elevado.
Veja quanta humildade existe por trás daquele que nos pede auxílio, seja ele um ser encarnado ou um ser desencarnado! Portanto, como podemos rejeitar ajuda a quem quer que seja?!
Portanto, médiuns, jamais esqueçam do comprometimento. Porque antes de tudo e mais nada, está a missão assumida por cada um de vocês!

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domingo, 12 de maio de 2019

Baba Yaga

Vasilisa | Fairytale art, Fairytale illustration, Fairy tales

Baba Yaga ou Yadviga é uma Entidade considerada por muitos como um Ser Sobrenatural que vive no meio das Florestas. Alguns a chamam de Bruxa, outros lhe chamam de Feiticeira... Nas Nações Africanas elas são chamadas de Iya Mi Oxorongá.
Existem inúmeras lendas sobre essas Entidades, que passaram de geração em geração e cresceram... Cada lenda possui características próprias de sua região e de seu povo. Mas, em todas elas temos um ponto em comum: as crianças.
As Bruxas (Baba Yaga ou Iya Mi Oxorongá) foram consideradas, durante séculos, como seres devoradores de crianças. Na maioria das histórias, elas capturavam e matavam os pequeninos. Em algumas dessas histórias, elas até se alimentavam do sangue ou do coração de suas vítimas.
Baseados em todas essas crenças, muitas pessoas perseguiam e matavam as mulheres que agiam diferente dos padrões da Sociedade. A grande maioria delas, eram apenas benzedeiras, que se isolavam no meio das Florestas para viverem em paz.
Naquela época, os crimes contra a inocência ocorriam de forma velada nos lares de muitas famílias. Pais abusadores escondiam-se na pele de pessoas de bem. Quando as crianças conseguiam fugir, pediam socorro e eram atendidas pela piedade dessas mulheres...
Essas crianças, sentiam-se confortáveis na presença dessas mulheres estranhas e, por isso, evitavam voltar para casa. Por que retornariam para o lar de seus agressores?
As autoridades locais conheciam a verdade, mas encobriam os fatos com histórias distorcidas da realidade. Enquanto pessoas inocentes eram levadas à fogueira, os verdadeiros culpados mantinham-se impunes!
As mães que denunciavam seus maridos, as benzedeiras que tratavam das feridas e as parteiras que tiravam os fetos incestuosos... Essas mulheres eram perseguidas de todas as maneiras! Torturadas, massacradas e condenadas, simplesmente, por saberem demais.
Não pensem vocês que as coisas mudaram... Se as Baba Yaga nos acompanham até hoje, cobrando um preço pela justiça perdida, é porque ainda existem os violentadores dentro de diversos lares, dentro de inúmeras Igrejas, dentro da Política e da Polícia.
Os violentadores são silenciosos e ardilosos. Os verdadeiros violentadores falam bonito, vestem-se bem e vivem em nossa Sociedade como pessoas de bem. Eles podem ser qualquer um... Por isso, tenha cuidado!
As Baba Yaga temem por nossas crianças! Elas querem proteger os pequeninos... Mas, elas são apenas Seres Sobrenaturais que necessitam de seus médiuns para defender a pureza infantil.
Afinal, elas são as Grandes Mães Ancestrais, as Defensoras da Vida e da Morte. Elas representam nossa a Ancestralidade. Elas são as Iya Mi Oxorongá!

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