sábado, 2 de fevereiro de 2019

Pombagira Mirim dos Sete Mares


"Eu me chamo Anna. Ou me chamava, enquanto vivia... Hoje tenho outro nome, um nome que identifica meu trabalho. Eu trabalho a serviço da Mamãe Iemanjá e vivo nas profundezas oceânicas. Mas, minha aparência não é a de uma Sereia ou de uma Ninfa das Águas. Eu tenho a aparência de uma 'Deva' das Águas.
Quando eu estava encarnada (como vocês dizem), minha mãe e eu vivíamos no Cais do Porto de Valência, na Espanha. Minha mãe era uma cigana expatriada, porque ficou grávida de outro homem. O Povo Cigano já é considerado estrangeiro em qualquer Pátria. Então, não sei se vocês sabem, um cigano expatriado é um cigano sem Nação.
Para sobreviver e me criar, minha mãe teve que se prostituir no Cais do Porto. Foi uma vida dura... Quando eu estava com doze anos, minha mãe adoeceu gravemente. Então, para me poupar, ela tomou uma decisão e procurou o capitão de um navio mercante. Ela me entregou a ele...
A partir daquele momento, eu me tornei propriedade daquele homem. Ele me levou para o navio e me colocou em sua cabine. Saiu e voltou horas depois com algumas roupas e um pouco de comida.
O navio partiu no mesmo dia e eu nunca mais vi minha mãe. Durante três meses meu trabalho foi servir aquele homem, de todas as maneiras. No começo foi difícil, mas depois acostumei... Já estávamos em alto-mar e eu tive que aceitar minha nova vida. Quando ele se cansou, me entregou aos marujos e eles puderam se 'divertir' comigo. Nem todos eram asseados ou simpáticos. Muitos eram bastante brutos. A maioria nem se importava por eu ter apenas doze anos.
Quando os marinheiros não estavam me usando em serviços sexuais, eu trabalhava no navio em serviços diversos. Um dos meus serviços era ajudar o cozinheiro do navio, que me solicitava sempre que podia. E assim, se passaram dois anos e eu conheci a vida no mar...
Um dia, comecei a ter os mesmos sintomas que minha mãe tinha, quando estava doente. Eu entendi que ia morrer... Com o tempo me tornei um peso morto, pois deixei de ser útil ao navio. Então, me deixaram em um canto para morrer...
Eu morri. Os marujos enrolaram meu corpo num lençol, amarraram com cordas e jogaram ao mar. Era um costume marítimo, chamado de sepultamento no mar. Como eu era criança e servia ao navio tive esse privilégio. Muitos eram jogados de qualquer jeito e viravam comida de tubarão ou outros peixes.
Achei que minha história tinha acabado e que tudo tinha chegado ao fim, com a minha morte. Pensei que ia sentir os peixes me devorando, mas, acordei em um local encantado, parecia um sonho... Era na água e eu conseguia respirar! Haviam criaturas magníficas mergulhando de um lado a outro, como uma história mágica.
Com o tempo descobri e aprendi muitas coisas... Uma delas é que (nós) somos seres infinitos que vivem múltiplas existências em lugares, também, infinitos. Eu fui convidada pra morar, estudar e trabalhar nesse mesmo lugar em que eu estava. Então, pra mim, ali era o Paraíso!
Mais tarde, me disseram, que aquilo era uma Colônia Espiritual. Na hora, não entendi muito bem o que era isso, já que eu nunca tinha ouvido falar de Espiritualidade. Eu só sabia da existência de Deus, de Jesus e de Maria porque minha mãe me falou antes de morrer...
Eu recebi permissão para repassar a vocês o que me ensinaram e o que aprendi nesse tempo todo em que estou aqui... As Colônias Espirituais se localizam em 4 Reinos: Reino Aquático, Reino Terreno, Reino Intra-terreno e Reino Aéreo. Dentro desses Reinos estão distribuídos todos os trabalhadores espirituais, de acordo com a missão assumida por cada um deles.
O Reino Aquático localiza-se tanto onde existem mananciais de água doce, de água salgada, de água salobra, de água mineral ou de outras águas... Nele existem inúmeras Colônias, onde habitam seres bem diversificados. Um exemplo é o Povo das Águas e outro exemplo são os Elementais.
O Reino Terreno distribui-se por toda a extensão sobre a superfície das terras. Nele coexistem seres: encarnados e espirituais, elementais e encantados. Como exemplo, eu posso citar o Povo das Matas e vocês.
O Reino Intra-Terreno pode parecer desconhecido, mas vocês já ouviram falar muito dele... No interior de nosso Planeta existem inúmeros locais inexplorados, como cavernas, abismos, labirintos, fendas, etc. Nesses locais, existem Colônias que abrigam moradores dedicados a resgatar os menos favorecidos, das regiões mais densas e profundas dos planos inferiores.
O Reino Aéreo possui Colônias suspensas e flutuantes que sobrevoam nosso Planeta como se fossem observatórios constantes de nossas atividades. Nessas Colônias Aéreas, também coexistem seres diversos da Criação de Deus.
Ainda preciso explicar outra coisa, como nós dos Planos Inferiores nos organizamos e nos apresentamos para o trabalho. Usarei como exemplo a Linha das Águas e a Pombagira Rainha Maria Padilha, que possui sob seu comando as seguintes Falanges...
Pombagirinha Maria Padilha (em torno de 6 anos);
Pombagira Menina (dos sete aos doze anos);
Pombagira Mirim (dos treze aos vinte anos);
Pombagira Mulher (dos vinte e um aos sessenta anos);
Senhora Pombagira (mais de sessenta anos).
Os Exus seguem a mesma classificação e eu, também, vou usar como exemplo a Linha das Águas, já que trabalho nessa Linha. Por exemplo, o Exu Rei do Lodo comanda...
Exu Lodinho (em torno de 6 anos);
Exu Menino do Lodo (dos sete aos doze anos);
Exu Mirim do Lodo (dos treze aos vinte anos);
Exu do Lodo (dos vinte e um aos sessenta anos);
Senhor Exu do Lodo (mais de sessenta anos).
Agora, vocês sabem a idade daqueles que acompanham vocês e também podem perceber de que forma eles desencarnaram... Um Exu ou uma Pombagira jamais foi um Espírito 'pecador' ou errante. Nós jamais infringimos as Leis de Deus e jamais cometemos qualquer pecado capital.
Nossas vidas podem ter sido tortas pelas circunstâncias que se apresentaram mas, todos nós viemos com uma missão terrena bonita e iluminada. Fomos impedidos de cumprir o que estava determinado, devido a inúmeros acontecimentos... Porém, jamais perdemos nosso propósito da Alma e jamais nos desviamos do caminho de Deus.
Todo Exu e toda Pombagira, bem como, todo Guia Espiritual, só pode tornar-se um Falangeiro porque, acima de tudo, acredita em Deus, em Jesus e em Maria. Todos nós, trabalhadores de Umbanda, possuímos uma fé inabalável no Criador.
E, se por acaso, um Guia se apresentar e deixar de mencionar seu respeito e seu amor ao Nosso Senhor, por favor, duvide que ele é um Guia. Acredito que 'falei' demais e, por isso, me retiro, com a certeza de que cumpri mais um desígnio de minha missão. Obrigada a vocês que leram a minha história..."

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