quinta-feira, 27 de março de 2014

E a Estrela de Davi se move sobre nós...


Felizes aqueles que adquiriram sabedoria e a usaram com parcimônia! O Senhor Yaweh deu a Davi o dom da guerra quando ele nem sabia guerrear; deu a ele o dom do comando, quando ele não sabia comandar; deu a ele o dom de reinar, quando reinos ele não tinha. Deus pode dar e Deus pode tirar. E Deus deu a Davi o que era de seu merecimento.
Davi nos ensina a mansidão, a misericórdia e a coragem. Com ele aprendemos que tudo é possível! Ou seja, no arquétipo de Davi enfrentando o gigante Golias, Deus nos ensina que é possível enfrentarmos nossos maiores "gigantes": medo, angústia, tristeza, insatisfação, inveja, cobiça, revolta, mágoa, etc. Portanto, ao jogarmos a pedra e atingirmos a cabeça daquilo que nos parece gigante, estaremos atingindo o ápice dos problemas e derrubando-os por terra!

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Davi representa o princípio primordial da Cultura Judaico-cristã. Ele é o início da descendência de Jesus. Davi é o primeiro Rei a acreditar no Deus Único e a professar a sua fé nesse Deus. Davi foi o pai de uma grande Linhagem! E dela nasceu também Salomão. Na Umbanda Sagrada Davi representa a proteção de Xangô e o comando das Falanges Orientais Ancestrais. Muitos trabalhadores espirituais atuam sob a égide de Davi e de Salomão.
Inúmeros  personagens Bíblicos servem como referência para nossas vidas. Eles são exemplos de fé, coragem, obediência, paciência, entre outros atributos. Porém, somente um deles foi considerado pelo próprio Deus como "O homem segundo o meu coração" (1 Sm 13,14).


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Diferente de muitos santos ou profetas, Davi era semelhante a qualquer um de nós. Ele era um jovem comum à sua época, pois não possuía uma aparência exuberante (1 Sm 16, 12); sabia, apenas, pastorear as ovelhas de seu pai (1 Sm 16,11); vivia num pequeno povoado de Belém (1 Sm 16,1); era um excelente músico (1 Sm 16,18); entre muitas outras qualidades de simplicidade...
Por isso, muitos questionavam: "Por que tanta honra a um homem que, apesar de notável, teve sua vida pontuada por graves pecados, como adoração e adultério?" Porque ele conhecia suas limitações (Sl 131), mas sempre atribuía suas vitórias à Deus (1 Sm 17;37 e Sl 34; 4-7). Davi também continuou com suas tarefas de pastor, mesmo sendo um ungido do Senhor (1 Sm 16;19) e isso demonstra o quanto ele era humilde!


Ele trabalhou como músico do Rei Saul (1 Sm 16; 17-18 e3 1 Sm 16; 20), pois este era atormentado por maus espíritos; mas, quando Davi dedilhava a harpa eles se afastavam... Portanto, Davi usava seu dom de cura espiritual através da música. E assim, Davi aprendeu que a melhor maneira de alcançar o coração de Deus é o caminho da humildade, da sinceridade e do arrependimento.
Como qualquer homem, Davi enfrentou momentos de crises e sentimentos de ódio, raiva e desejo de vingança. Davi teve a chance de matar Saul, após ter sido traído por ele, mas soube lidar com seus sentimentos negativos (1 Sm 24; 1-22) e superar sua mágoa.


A Estrela de Davi

Muitas "Ordens" ou Sociedades Ocultas utilizam a Estrela de Seis Pontas ou Hexagrama como símbolo majoritário. Elas atribuem o início do conhecimento a Davi. A Estrela de Davi é conhecida como ESCUDO SUPREMO de Davi ("Magen David" em hebraico) ou Selo de Salomão. As seis pontas simbolizam o governo de Deus sobre o Universo em todas as seis direções.
Alguns dizem que a Estrela de Davi é uma figura complicada entrelaçada que não tem seis (hexograma), mas sim 12 lados (dodecagrama). Também podemos considerá-la como composta de dois triângulos sobrepostos ou sendo de seis triângulos menores emergindo de um hexagrama central. Como o povo judeu, a estrela tem doze lados, representando as doze tribos de Israel. No Hinduísmo cada ângulo representa um "deus" da Trindade: Brahma, Vishnu e Shiva - o Criador, Preservador e Destruidor, respectivamente.
  

A estrela de seis pontas (hexagrama), feita de dois triângulos entrelaçados, pode ser encontrada em muitos objetos sacros, filosóficos e exotéricos. A bandeira de Israel tem uma Estrela de David azul centralizada. A área central da estrela de seis pontas representa a dimensão espiritual, rodeada pelas seis direções universais. O Shabat (sétimo dia) dá equilíbrio e perspectiva de vida aos demais dias da semana.
Os dois triângulos também podem representar o relacionamento recíproco entre o Povo Judeu e Deus. O triângulo apontando "para cima" simboliza nossas boas ações que sobem ao céu e que ativam um fluxo de boa vontade que retorna à terra, simbolizado pelo triângulo apontando para baixo. Na Cabala, os dois triângulos representam as forças inversas que controlam o homem: o bem e o mal; ou seja, o espírito e o físico; ou o angelical e o terreno... e assim por diante.


O Hexagrama também foi utilizado para fins destrutivos. Os judeus foram obrigados a usar crachás especiais durante a Idade Média, tanto pelas autoridades muçulmanas, quanto pelas autoridades cristãs; e depois em Israel durante o Império Otomano. A Estrela também foi um triste símbolo durante o Holocausto, quando os nazistas forçaram os judeus a usarem uma estrela amarela como identificação.
O "Magen Davi" reconhece que nosso herói militar não venceu pela própria força, mas pelo apoio do Todo Poderoso. Isso também é mencionado na terceira bênção após a leitura da Haftará no Shabat: "Bendito sejas Deus, o Escudo de Davi!" Portanto, não importa se é uma estrela azul ondulando orgulhosamente numa bandeira ou uma estrela de ouro adornando a entrada de uma Sinagoga... A Estrela de David se destaca como um lembrete e um questionamento: "Nós confiamos plenamente em Deus, assim como confiou Davi?"

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Os Salmos de Davi

Os Salmos ou "Saltério" representam uma coleção de 15 cânticos (orações) do Povo de Israel. A palavra Salmo em grego significa "Cântico Sacro". Os Salmos surgiram em épocas diferentes, mas a maioria foram escritos por Davi e por seu filho Salomão. Davi enfrentou uma vida de turbulências e um reinado de provações; por isso, sempre buscava fortalecimento nas orações do Torah.
O Torah é o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh e que constituem o texto central do Judaísmo. Ele contém os relatos sobre a criação do mundo, a origem da humanidade, o selo de Deus e Abraão, a libertação do Povo Judeu do Egito. O Torah foi escrito por Moisés e significa "instrução, apontamento, lei".


Davi começou a escrever os Salmos, como forma de manter contato íntimo com Deus. Em hebraico existem duas palavras que designam "Salmo": Tehellim e Mizmor - elas significam "Hino" ou "Louvor". Cada Salmo ou Hino indica uma adoração, aclamação ou súplica a Deus. Por isso, cada Saltério possui um significado próprio, expressando algum tipo de sentimento, como: súplica, alegria, dor, cansaço, etc. Por exemplo, Davi compôs o Salmo 6 quando estava muito doente. O Salmo 23 foi composto durante o período mais difícil da vida de seu autor. E existem inúmeros Salmos que citam a vinda do Messias...


quarta-feira, 19 de março de 2014

Salve São José: o grande carpinteiro!


No dia 19 de março, comemoramos aquele que comanda muitas Falanges na Umbanda Sagrada: São José. 
O nome José deriva de Joseph que, em hebraico, significa "Deus cumula de bens". O nome possui outras variações nas línguas provenientes do aramaico, como: Yosef ou Yehossef, e também significa: "Deus acrescenta..."
Joseph nasceu em Belém, filho de Jacó, como o terceiro filho de seis irmãos. A sua família era descendente de Davi.
José, o Amado Esposo da Virgem Maria e Tutor Amoroso do Mestre Jesus, era um Carpinteiro. Como esposo de Maria, ele foi o Maior Modelo de Pai e de Esposo, sendo considerado o Protetor da Sagrada Família.
São José foi um exemplo de vida e beatitude... Por isso, foi muito amado por Jesus e Maria, a quem dedicou a sua vida com amor.
São José foi escolhido por Deus para ser o Patrono de toda a Igreja de Cristo. Mas, também é chamado de São José "o Operário", sendo considerado o Protetor de todos os trabalhadores braçais.
Em 19 de março, celebra-se a Solenidade de São José, e todas as Igrejas espalhadas pelo Mundo recordam a sua Santidade como Pai Terreno ou Pai Nutrício de Jesus.
Em 1º de maio São José também é celebrado, como Protetor dos Trabalhadores. As duas datas comemorativas, devem-se ao fato da existência das Igrejas Católicas no Ocidente e no Oriente.
Muitos Falangeiros de diferentes Linhas da Umbanda celebram São José através de seu nome. Como exemplo, podemos citar: Marinheiro Zé, Capitão José, Boiadeiro Zé, Ibeji Zezinho, Pai José, Baiano Zé, Vaqueiro Zé, etc. O próprio Zé Pelintra homenageia São José em seu nome.
Devido a sua importância, José é um dos nomes mais registrados em todo o Mundo...

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ATRIBUIÇÕES DE SÃO JOSÉ:
- São José é o Santo que intercede por todas as graças que necessitamos, muitas vezes de maneira surpreendente e quase inacreditável.
- Os singulares privilégios de São José foram revelados à Serva de Deus, Santa Agueda:
- Por sua intercessão alcançamos a virtude da castidade e a vitória sobre as tentações contra pureza.
- Por sua intercessão alcançamos o poderoso auxilio da graça para sair do pecado e voltar a amizade com Deus.
- Por seu intermédio alcançamos a benevolência da Santíssima Virgem Maria e a verdadeira devoção a ela.
- Por sua intercessão alcançamos a graça de uma boa morte e a especial proteção contra o demônio nesta hora.
- Os espíritos malignos estremecem ao ouvir o nome de São José.
- Por sua intercessão alcançamos a saúde do corpo e o auxílio nas mais diversas necessidades.
- Por sua intercessão as famílias alcançam a bênção da prosperidade.
- Nossa Senhora revelou a Santa Agueda: "Os homens ignoram os privilégios que o Senhor concedeu a São José, e quanto pode sua intercessão junto de Deus. Somente no dia do Juízo os homens conhecerão sua excelsa santidade e chorarão amargamente por não haverem se aproveitado desse meio tão poderoso e eficaz para sua salvação e alcançar as graças de que necessitavam".


LENDA DE SÃO JOSÉ:
Há na cidade de Santa Fé, no Estado do Novo México, EUA, uma capela conhecida como Loretto Chapel. Nela destaca-se uma bela e despretensiosa escada. A piedade tradicional atribui a construção a São José. Em 1898 a Capela passou por uma reforma. Um novo piso superior foi feito, porém faltava a escada para subir. As Irmãs consultaram os carpinteiros da região e todos acharam difícil fazer uma escada numa Capela tão pequena.
As religiosas, então, rezaram uma novena a São José para pedir uma solução. No último dia da novena, apareceu um homem com um jumento e uma caixa de ferramentas. Ele aceitou fazer a escada, porém exigiu que fosse com as portas fechadas.
Meses depois a escada estava construída como queriam as Irmãs. No momento de pagar o serviço, o homem desapareceu sem deixar vestígios. As religiosas puseram anúncios no jornal local e procuraram por toda a região sem encontrar quaisquer noticias ou informações sobre o ignoto carpinteiro. Nesse momento as Irmãs perceberam que o homem poderia ser São José, enviado por Jesus.
Há vários elementos que reforçam a aura de piedoso mistério que envolve a construção da escada:
- A madeira utilizada não é da região, e ninguém sabe como foi parar lá. Também não foi utilizado prego na escada, apenas pinos de madeira.
- Além do mais, hoje soa misterioso que ela se mantenha em pé pois é do tipo caracol e não tem apoio central. Na verdade apenas um apoio colateral metálico foi acrescentado a posteriori que não resolve a essência do incógnita. Diz-se que engenheiros e arquitetos não conseguiram desvendar a física por trás da obra.
- Por fim, a escada tem 33 degraus, a idade de Jesus Cristo, o que reforça ainda mais a suposição de um fenômeno de origem sobrenatural.
- A Capela recebe em média 200 casamentos por ano e centenas de turistas. Ela ficou conhecida como a "Escada Milagrosa". Grande número de artigos e programas de TV foram dedicados a ela e seus “mistérios”.

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ORAÇÕES A SÃO JOSÉ

ORAÇÃO I
São José Trabalhador, rogai pelos desempregados.
Senhor que disseste, comerás o pão com o suor de teu rosto, eu sei que o trabalho é digno e abençoado para sustentar a vida, mas Senhor, apesar da boa vontade de trabalhar há tanto desemprego!
E por isso Senhor, o desemprego está causando problemas na família e na vida pessoal. Senhor olhai pelos desempregados. Por isso, hoje estamos rezando por estes, cujos nomes apresentamos agora...
(Diga os nomes das pessoas que estão precisando da graça de um emprego)
Senhor, por intercessão de São José Operário, faça com que estas pessoas consigam um trabalho decente para sustentar a vida. Senhor, quando estivestes neste mundo, fostes humilde carpinteiro. Tende piedade e compaixão dos desempregados que querem trabalhar, que precisam trabalhar.
Ilumina o caminho para que possam encontrar o que há tanto tempo estão procurando. Nós cremos Senhor naquela Tua Palavra: Batei e a porta vos será aberta.
Ilumina os desempregados a baterem na porta certa. Que não recebam um não ou o descaso, mas consigam a graça de um trabalho. Dai ânimo Senhor, aos desempregados. Abre as portas de um emprego para estas pessoas
(Diga mais uma vez os nomes das pessoas)
São José Operário, intercedei pelos desempregados.
Senhor, eu confio na Tua Graça.
Senhor, eu confio no Teu Poder.
Amém.

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ORAÇÃO II
Para pedir emprego:
Oh! meu querido Santo Trabalhador, que em vida fizestes a vontade de Deus através do trabalho, abra as portas do comércio para que eu possa conseguir um emprego.
Dai-me forças e coragem para não desistir no primeiro não.
Que eu tenha a disposição de Santa Teresa D'Ávila, a simplicidade de Maria de Nazaré, a força de Santo Antônio.
Orienta os nossos governantes para a distribuição dos bens do país.
Protege as nossas famílias para que não se deixem vencer pela seca, pelo medo, pela violência, pela falta de trabalho e dê esperança no Domingo da ressurreição.
Meu São José, padroeiro dos trabalhadores, não me deixeis sem o pão de cada dia e sem perspectiva de um novo dia para minha família.
Prometo, com o dinheiro do meu futuro emprego, ajudar uma instituição de caridade a divulgar essa devoção.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém.

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ORAÇÃO III
Leia o seguinte trecho da Bíblia... (Mt. 2, 13-23)
“Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1). Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer 31,15)! Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino. José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galileia e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será chamado Nazareno.”
Faça seu pedido... Em seguida, reze uma Ave-Maria e um Pai-Nosso.
E por fim diga: São José, providenciai...

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sexta-feira, 14 de março de 2014

Pombagira Lâmia


"Eu nasci e vivi onde hoje situa-se a Lituânia, no século XV, sob o reinado de Alput. Eu era descendente dos búlgaros romani - ciganos descendentes do Conde "Drácula". Vlad Tepes (o Empalador) era um governante sanguinário da Romênia e minha mãe possuía parentesco direto com sua linhagem. Nossa caravana viajava constantemente para evitar perseguições, devido a nossa herança ancestral.
Em nossa família, seguíamos as tradições dos antigos Balcãs (Otamanos) e sabíamos aplicar sortilégios e magias diversas em nossas peregrinações. Apesar de tudo isso, acreditávamos em Deus, Jesus e Maria, mas também acreditávamos nos nossos deuses nórdicos. Éramos perseguidos, justamente por sermos ciganos cristãos, pois os Otamanos eram mouros e a intolerância religiosa já ocorria naquela época.
Passamos a viver na região da Suécia e tivemos relativa paz, durante alguns anos. Eu casei-me com um descendente nórdico e tive dois filhos lindos - um menino e uma menina. Meu esposo era comerciante de peles, especiarias e tecidos diversos. Minha família prosseguia com o trabalho de comercialização de pedras preciosas e ouro.
Nossas comemorações eram festivas e alegres - comemorávamos tudo: colheitas, vendas, bons negócios, nascimentos, casamentos, entre outras festividades. Por isso, nem percebemos quando uma guerra iniciou e o estado começou a disputar diversos interesses. Todos eram chamados a lutar e nós tentamos não tomar partido. Pensamos até mesmo em prosseguir viagem, mas nossos negócios estavam todos bem distribuídos na região.
Quando a disputa iniciou eu fiz algo que uma mulher naquela época não faria: agi politicamente. Eu era bonita e sedutora, então negociei nossa permanência e estabilidade com os governantes. Eu me envolvi (não tenho vergonha de falar) com cada um deles e usei minha magia para tê-los sob meus encantos. Assim, sem que quase ninguém soubesse, eu mantive nosso povo em liberdade e obtive a paz para nossa raça.
Eu fiquei grávida de um deles e sabia que essa criança poderia disputar a coroa, mesmo sendo um filho bastardo; mas, com isso, perderia meu esposo e o respeito de minha raça. Então, abandonei meu povo... Deixei meus filhos com o pai e segui para junto do governante. Aceitei sua proposta e fui viver com ele. O filho dele nasceu, um menino que herdaria o reino.
Eu não me tornei sua esposa, apenas uma concubina e serva do palácio. Mas, meu filho foi criado pelo rei e pela rainha, como filho legítimo. Eu senti saudades de minha antiga vida, de meu povo e de meu esposo. Mas, o que uma mulher não faz pelos seus? Eu fiz e não me arrependi...
Às vezes eu visitava o local do acampamento e ficava a sondar a distância para ver meus filhos. Meu esposo desposou outra cigana e teve mais filhos com ela. Para eles eu era uma fugitiva. (...) Os anos passaram e meus filhos cresceram. O príncipe herdeiro (meu filho sem saber) tornou-se um rapaz nobre, bonito e inteligente. Ele deveria casar-se em breve para assumir o trono. Tudo o que eu planejara aconteceria... Porém, a vida nos prega peças e eu fui envolvida em uma delas.
O príncipe herdeiro escolheu uma jovem do povo para desposar. Dizem que ela era uma bonita filha de comerciante. Moça bem educada e de fino trato, foi aceita no palácio, mesmo não sendo da realeza. Eles estavam felizes com o noivado e já programavam a festividade do casamento. Foi quando eu a vi e algo me atravessou a alma. Era minha filha... Perante o Cristianismo eles não poderiam casar, mas de acordo com a Tradição dos Antigos Deuses, nada impediria.
Eu fiquei dividida, pois eles eram irmãos e somente eu sabia disso. De meu ventre haviam nascido dois herdeiros para o trono: um homem e uma mulher - dois irmãos. O que fazer? Permitir que eles se casassem e não interferir? Contar a um deles? Contar para meu ex-marido?
Nessa hora, rezei à antiga Deusa e pedi orientação. Ela, Brighit, que coabitara com seu irmão para dar um herdeiro à Terra, me entenderia... Senti que nada deveria fazer e deixei que as bodas acontecessem. Eles casaram e o casamento foi o maior acontecimento do reino. E eu assisti a tudo ocultamente. Meus dois filhos se casando e assumindo o comando do Reino!!! Que mãe não teria orgulho disso? Mas, eu fiquei mortificada e apreensiva. Nada fiz.
O tempo passou e logo ela estava grávida. Antes do nono mês, ela já se preparava para dar a luz e eu fui chamada para auxiliar no parto, junto com outras servas. Logo percebemos que ela teria duas crianças, pois o parto estava difícil. Porém, o pior estava por vir...
O parto estava muito complicado e não conseguíamos realizá-lo. O médico da realeza logo deu o diagnóstico: gêmeos siameses. Eu sabia o que isso significava: aconteceu porque eles eram irmãos. Mas, para a época isso era um sacrilégio e crianças assim eram consideradas aberrações. Eles seriam descartados como lixo. Eu não podia permitir... Eram meus netos. Então, mais uma vez agi contra o destino. Ofereci-me para levar as crianças. Decidi fugir com elas e criá-las. Eu já errara demais, não podia errar mais uma vez.
Antes de partir, procurei minha filha, enquanto estava em recuperação e contei-lhe toda a verdade. No começo ela apenas olhou-me e nada disse, mas depois gritou e exigiu que eu saísse de sua presença. Procurei também o pai dela (meu ex-marido), mostrei os gêmeos a ele e contei onde estive todos esses anos. Ele mostrou repulsa por mim...
Nada mais havendo a fazer, arrumei uma carroça com provisões para a viagem e deixei o reino com os bebês. Eu era responsável por eles. Na tradição da Antiga Deusa, gêmeos siameses eram venerados. Eu acreditava que eles tinham uma herança maldita, do antigo empalador e de tudo o que aconteceu... Mesmo assim, segui para a Noruega, levando-os comigo...
Durante o caminho encontrei uma caravana de saltimbancos e ajuntei-me a eles. Passei a me apresentar com eles, realizando números de mágicas e adivinhações. Eu também sabia usar cobras em meus números e isso cativava o público. Meus netos eram uma atração a parte... Dentro de uma jaula eles era observados pelos outros. A jaula era para protegê-los de qualquer barbárie. Alguns médicos e cientistas pediram para estudá-los e eles eram constantemente observados.
A Europa vivia um período de perseguições por conta do Catolicismo, mas a vida circense nos protegia, de certa forma, pois não representávamos perigo à Igreja. Mesmo afastada da vida na Suécia, eu pude acompanhar os últimos acontecimentos: Minha filha adoeceu e definhou... Saber a verdade de tudo não lhe fez bem e ela me culpou, com razão. Meu filho nunca soube de nada e casou-se novamente, dessa vez com a herdeira do reino vizinho (Dinamarca). Assim a "Escandinávia" permanecia unida. Meu ex-marido tornou-se uma pessoa amarga por causa de tudo o que aconteceu e por fim passou a beber até morrer.
Meus netos viveram 36 anos e eu vivi até os oitenta anos. Não casei mais, apenas cuidei de meus netos e vivi intensamente a vida circense. Tive alguns amores passageiros e só... Ao final de minha vida eu sabia manipular o veneno de quase todas as cobras e usava-os para curas diversas. Apesar de me chamarem de "A Feiticeira das Cobras", a Inquisição não me tocou, pois eu praticava a arte mágica como entretenimento e não era considerada um perigo à sociedade.
Após minha morte, descobri que meus netos foram dois irmãos gêmeos, que disputaram meu amor em outra vida. Como eles mataram-se por conta disso, nasceram "unidos" como siameses. Meu ex-marido foi meu filho e irmão de minha filha. Meu filho herdeiro fora meu esposo e acompanhou todo meu declínio. Por isso, nessa vida, ele foi afastado de mim. Meu outro filho, de quem quase não falei, foi uma pessoa normal e feliz. Ele tornou-se comerciante, casou, teve filhos e viveu honestamente no interior da Suécia.
Assim, foi que vivi essa vida: intensamente e com muitos acontecimentos. Quando eu descobri toda a minha história, após minha morte, resolvi buscar todos que fizeram parte dela. Procurei me apaziguar com eles e lutei pelo perdão de todos. A Espiritualidade Maior ofereceu-me a oportunidade de resgatar minhas dívidas através do trabalho mediúnico e tornei-me uma Pombagira. Assumi o nome de Lâmia, pois em minha cultura as "Lâmias" eram mulheres que sabiam seduzir e eram consideradas meio cobras e meio humanas.
Eu me sentia, muitas vezes, como uma das cobras que eu apresentava nos espetáculos: quieta, mas observadora. A cobra, em nossa cultura, representa a sabedoria e a sutileza feminina. E eu sabia como usar essa sutileza diariamente. Se eu me redimi de tudo só o tempo dirá, pois até hoje trabalho em busca de minha redenção." (Assim ela narrou sua história...)

*A Pombagira Lâmia também pode ser chamada de Pombagira das Cobras.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Bombogiro da Calunga...

Um gladiador escravizado.

"Eu vivi no tempo dos gladiadores e fui condenado a ser um deles. Conheci toda a dor e a tristeza de um povo que não pode viver sua liberdade, por causa de sua crença. Fomos perseguidos, ultrajados e encarcerados. Por vivermos presos e sem direito, nos envolvíamos uns com os outros, para aplacar a dor da solidão. Não era feio ou errado. Era a sobrevivência. Uníamos para viver.
A cada duelo um de nós era escolhido para lutar contra o adversário e devíamos dar um espetáculo para a multidão sedenta por sangue. Aquele que se negasse a lutar era decapitado antes mesmo de entrar na arena. Assim, todos lutavam, pois conseguiam prorrogar um pouco mais suas vidas. Tínhamos a esperança de um dia nos libertarmos. Pensávamos que se lutássemos bravamente e vencêssemos muitas vezes, seríamos libertos. Mas, com o passar do tempo, percebemos que nossos algozes não tinham essa intenção... A luta era um espetáculo vantajoso para eles!
Eu consegui sobreviver dois anos após minha prisão, mesmo com lutas semanais. Então, eu sobrevivi 108 vezes! Por fim, eu mesmo desisti, pois meu companheiro morreu no duelo e eu também não quis mais seguir... Essa foi uma de minhas primeiras experiências como homossexual. Reencarnei, em seguida, no mesmo Império Romano, mas servindo a corte como escravo do Rei. Junto comigo também reencarnou meu companheiro. Nós dois vivíamos no castelo como serviçais e não demorou muito para nos reconhecermos e nos envolvermos novamente.
A vida no palácio era só luxúria. Éramos escravos do prazer. Devíamos servir aos nossos senhores e senhoras de todas as maneiras. No começo isso parecia bom, mas com o tempo, comecei a almejar minha liberdade. Queria conhecer o mundo, viajar, explorar outras terras e culturas. Então comecei a planejar minha fuga... Guardei moedas, provisões e tudo o que fosse necessário. Eu poderia seduzir um dos sentinelas para escapar e embebedar a guarda do palácio.
Planejei tudo e procurei meu amado para pedir a ele que fugisse comigo. Ele relutou, pois tinha medo. Depois criou coragem. Conseguimos em uma noite de tempestade, armar a fuga, pois os moradores do palácio dormiam mais nesses dias. Tudo correu conforme eu planejara e seguimos em direção ao litoral.
Chegamos ao porto e embarcamos no primeiro navio em direção a Grécia. Nós tínhamos que tomar cuidado para não chamar a atenção, então arranjamos serviço no navio. Eu sabia cozinhar e meu companheiro arranjou-se como imediato. Assim, tínhamos abrigo e comida até chegarmos em nosso destino. Escolhemos a Grécia, pois ainda era um país livre do domínio romano. Poderíamos ter tentado seguir por terra, mas os exércitos romanos tomavam conta de diversas regiões.
Ao chegarmos na Grécia festejamos nossa liberdade temporária e buscamos trabalho em uma marmoraria. Extraíamos o mármore e ajudávamos a esculpir estátuas de deuses. Porém, nossa alegria não foi duradoura. Dizem que nosso destino nos persegue (mesmo quando fugimos dele) e o meu me encontrou... Roma invadiu a Grécia e fomos capturados. Meu companheiro reagiu e foi morto a golpe de espada e eu fui levado como escravo.
Todo escravo capturado, primeiramente trabalhava como remador no navio que o levava e depois passava por triagem no solo de seu algoz. Em Roma eu fui conduzido ao Coliseu, para ser treinado em lutas e tornei-me (novamente) um gladiador. Não demorou muito para que eu fosse um gladiador bem treinado - acredito que eram resquícios de meu passado. Venci muitas lutas.
Um dia, enquanto lutava, fui reconhecido por meus antigos patrões. Eles faziam parte da realeza presente na plateia. Quando a luta terminou, fui chamado à presença deles. Eles e os treinadores conversaram e quando obtiveram a confirmação de que eu era o escravo fujão, sentenciaram-me a morrer na Arena com os leões.
Essas duas existências marcaram-me profundamente, muito mais que qualquer outra e, por isso, as descrevi aqui. Hoje, sirvo a Umbanda Sagrada como um "Bombogiro" ou um Panjira*, pois sinto orgulho de ter vivido assim..."