sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Carta aberta de um Médium Umbandista...


Quando eu comecei a cumprir minha missão, eu não sabia nada do que sei agora... Eu não sabia nada de nada e também não entendia coisa alguma! Eu era, na verdade, um medroso!!!
Mas, como dizem: "Ninguém foge de sua missão... Pois, quem não vai por amor, vai pela dor!" Isso aconteceu comigo: a dor... Muita dor!
Bem, nem sei por onde começar... Vou tentar começar do começo, o começo da minha vida.
Eu já nasci assim... Assim como? "Esquisito", "Diferente" e "Perdido". Acho que a maioria é assim, ou não, não sei... Mas, eu já nasci "Mediunizado".
Bom, tem aqueles que já nascem em uma família preparada para lidar com isso... Então, fica bem mais fácil! Pelo menos eu acho... Pois, dentro de casa terão aceitação e compreensão!
Eu não tenho aceitação, nem compreensão, de quem está perto de mim... Nunca tive... Precisei fazer tudo escondido! Escondido da minha família, principalmente... E é assim até hoje!
Infelizmente, se eu quiser conviver com minha família, preciso esconder uma parte daquilo que sou... Senão preciso me excluir deles. Ou seja, me afastar...
Sabe, existe uma parte da minha família que entende e aceita... Mas, é uma parte mínima e distante, que vive longe, afastado dos meus familiares mais próximos (pais e irmãos).
Meu pai, antes de morrer, descobriu quem eu era e o que eu fazia de verdade, e até me aceitou e me abençoou... Mas, minha mãe, me ofende todos os dias! Não diretamente, porque já não me abro mais com ela... Mas, ela ofende qualquer coisa ou situação que se pareça comigo.
Às vezes não sei se ela sabe, desconfia ou se o problema dela é só comigo mesmo; só sei que é muito difícil viver assim... Fora minha mãe, meus irmãos também não sabem, mas, com eles eu não convivo... O problema é que minha mãe mora comigo!
Por isso, o meu desabafo é esse: como conviver com sua família, se eles não aceitam quem você é? Na maioria das vezes, me sinto inconformado com tanta perseguição!
Preciso viver uma mentira para poder cumprir minha Missão de Médium. Preciso esconder quem eu sou de verdade... Não tem conversa, não tem diálogo... É só cobrança!
A cobrança é porque eu não faço tudo o que minha mãe quer... É errado pra mim. Pelos valores que eu reconheço agora e que eu sigo... Não concordo com certas coisas! Como eu sei o que acontece com o espírito depois que o corpo morre, eu procuro seguir aquilo que eu acho adequado e que é aconselhado pelos Guias Espirituais.
Por exemplo, eu não critico mais ninguém, porque cada um tem sua própria cruz pra carregar... Não sento na calçada pra cuidar da vida alheia, como é costume no meu bairro, porque acho errado fofocar... Não participo de certas Festas na Comunidade, pra evitar dar explicações sobre onde vou e o que eu faço. Etc...
Enfim, eu não faço nada do que os outros fazem, então, isso gera críticas por parte da minha mãe, que diz que eu sou uma pessoa problemática, porque não faz nada! O "nada" é não me incluir na vida normal da Comunidade!
É difícil, porque eu até queria ser meio "normal" como os outros, e me enturmar na vida comum do Bairro... Mas, eu não vou abandonar minha missão, porque ela me ajudou a entender quem eu era, quem eu sou e o que estou fazendo aqui... E também não posso abandonar minha própria mãe. Então, é complicado, porque às vezes eu me sinto meio "baqueado"!
Quem é Médium e trabalha corretamente, sabe que a gente tem certas obrigações e certos resguardos que tem que cumprir, respeitando determinadas datas e certos compromissos... Por conta do Desenvolvimento Mediúnico. Então, é bem difícil explicar pra quem é de fora, o que a gente vai fazer em determinado momentos!
Bem... É isso... É difícil... Mas, eu tô aqui tentando fazer o meu melhor: cumprindo minha Missão de Umbandista e cuidando da minha Mãe, dentro das minhas possibilidades.
Espero que eu esteja fazendo tudo certo, porque eu me sinto bem sendo Umbandista. E jamais vou abandonar minha Mãe, porque ela me deu a Vida. Então, é isso...
(Fim da Carta)

*O Caboclo Cobra Coral pediu aos Médiuns que escrevessem sobre suas dificuldades com a Mediunidade, ou que desabafassem sobre algum problema. Então, em uma Reunião, ele conversou com todos os Médiuns e, após a leitura das cartas, aconselhou que elas fossem publicadas (com a permissão deles), para que servissem de exemplo aos outros... Como diz ele, existem muitos Médiuns que enfrentam os mesmos problemas e que precisam perceber que não estão sós!